Neste momento conturbado que vivemos em nosso país, nada é mais oportuno que refletirmos sobre a ética. Estamos imersos em uma grave crise político-econômica, permeada por um debate ético, que confronta a moral dos homens públicos e a nossa, particularmente, vivenciada no dia-a-dia.
Sem entrar no mérito filosófico do tema, a ética possui diversas linhas doutrinárias, originárias em diferentes fases da humanidade, cada qual com suas características próprias. Não há uma doutrina – escola – certa ou errada.
Nós, sul-americanos, estamos inseridos em um contexto histórico , no qual prevalece uma cultura envolvida na escola ética “finalista”. O finalista tem algumas características próprias, adota como princípio da sua vida o oportunismo – no bom sentido – para atingir seus objetivos, geralmente é uma pessoa criativa, porém, de maneira geral não se preocupa com a sociedade e acaba adotando um pensamento egoísta, priorizando apenas o seu bem-estar.
Temos solução para tudo, resolvemos nossos problemas de maneira rápida, mesmo que isso afete as pessoas que estiverem ao nosso redor. Quer um exemplo disso? Independente da classe social, vamos imaginar um veículo fazendo fila dupla em frente à escola primária aguardando os filhos no horário de saída. Será que essa atitude é proposital? Talvez, mas o fato é que essa postura está enraizada em nossa cultura, por várias gerações, passando pela educação de pai para filho. De maneira geral em uma sociedade europeia, por exemplo, isso seria inconcebível. Ou seja, n&atil de;o passaria pela cabeça do cidadão de muitos países europeus obter essa vantagem sobre os demais somente para ganhar tempo.
Ele pensaria na sociedade, não faria com os outros o que não gostaria que fizessem com ele. Esse princípio “enraizado” no coração do cidadão norteia sua linha ética. Isso veio de sua criação, está no seu coração – verdadeiramente condicionado.
Alguns historiadores afirmam que as mudanças dos conceitos de uma sociedade levam em média um século para ocorrer, o movimento social precisa ser amadurado e levado de geração em geração para se tornar parte da cultura de uma nação. Talvez isso esteja embrionariamente acontecendo.
Nesse tema, um dos problemas de nossa sociedade é que ela não assume que faz parte desta “cultura” – escola ética – e fica no limbo. Tudo é levado sempre na terceira pessoa, é fácil perceber comentários afirmando que somos isso ou aquilo, mas jamais assumimos que fazemos parte dessa cultura.
Trazendo para o mundo empresarial, o que não é muito diferente disso, como reflexo dessa mentalidade ao longo dos anos, principalmente no gostinho de se assumir um certo risco, tem-se o sentimento da impunidade e que as ações do empresário sul-americano são envolvidas naquele “jeitinho brasileiro”.
Porém, agora teremos a oportunidade de mudar, o brasileiro ficou diante do mercado global, com empresas vinculadas aos mercados externos, dependentes uns aos outros, buscando sua sobrevivência em parcerias. Passamos do amadorismo, das táticas frágeis para atingir objetivos a curto prazo, para o aprimoramento das atividades e ações empresariais. Estamos saindo do amadorismo e agora vamos amadurecer. Volto a dizer, um embrião pode ter se instalado e as próximas gerações poderão mudar. É uma oportunidade.
A ética do empresário estará ligada à preocupação da sua imagem e o que isso pode gerar negativamente, agora, com maior responsabilidade e amadurecimento, no caminho das boas práticas – princípios basilares morais – como formação básica do indivíduo, desde sua criação como cidadão. Dessa forma, esse é momento para refletirmos sobre o assunto, pesquisar e definitivamente adotar uma das escolas éticas para nossas vidas, mudando definitivamente o posicionamento de nossa sociedade.
Isso começa por nós. Vamos assumir nossa posição, seja ela qual for, e iniciar uma verdadeira mudança de cultura em nosso país. Isso servirá não somente para o mundo empresarial, mas para as nossas vidas.